como diadema cintilando na cabeça de um anjo. Havia em toda a sua pessoa um quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da terra. Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se preparava para sua celeste ascensão.

Às vezes, porém, a impressão da leitura turbava a serena elação da sua figura, e despertava nela a mulher. Então desferia alma por todos os poros. Os grandes olhos, velutados de negro, rasgavam-se para dardejar as centelhas elétricas do nervoso organismo. Nesses momentos toda ela era somente coração, porque toda ela palpitava e sentia.

Eu tinha parado na porta, e admirava: afinal adiantei-me para cumprimentá-la. Ouvindo o rumor dos meus passos, ela voltou-se.

— Minha senhora!... murmurei inclinando-me.

As cores fugiram-lhe. Ela vestiu-se como de uma túnica lívida e glacial: logo depois sua fisionomia anuviou-se, e eu vi lampejos fuzilarem naquela densidade de uma cólera súbita.

Fulminou-me com um olhar augusto e desapareceu.

Acreditas, Paulo, que essa moça que te descrevi fosse Emília, a menina feia e desgraciosa que eu deixara dois anos antes? Que sublime trabalho de florescência animada não realizara a natureza nessa mulher!

Emília teria então dezessete anos. Sentia-se, olhando-a, a influência misteriosa que um espírito superior tinha exercido na revolução operada