durante um mês, Emília não perdeu ocasião de crivar-me o coração com os alfinetes de sua cólera feminina.

Uma noite de reunião, servia-se o chocolate. Ela ia tomar uma xícara da bandeja que passava, quando o criado, sem perceber o movimento, seguiu. Se visses o meigo império do olhar que me lançou, compreenderias por que, apesar de meu ressentimento, apressei-me a servi-la.

Entretanto, quando lhe ofereci o chocolate, recebeu-o inteiramente distraída, sem me olhar.

— Muito agradecida! disse-me, atirando a palavra da ponta do beiço o mais lindo, e também o mais desdenhoso.

Retirei a mão, julgando que ela sustinha entre os dedos delicados a xícara; mas esta acabava de espedaçar-se no chão manchando a saia achamalotada de seu rico vestido de seda azul.

Emília ficou impassível. Volvendo lentamente o rosto, atirou-me por cima do ombro estas duas palavras que vieram afogadas no escárnio:

— Com efeito!... — e retirou-se da sala.

Ela tinha deixado cair a xícara de propósito; mas naquela ocasião estava bem longe de suspeitá-lo. Lancei toda a culpa sobre mim; e tive-me em conta do maior desastrado.

Procurei-a: já tinha partido. Na próxima quinta-feira, logo que cheguei, dirigi-me a ela para lhe pedir perdão de minha inadvertência:

— Peço-lhe mil desculpas, minha senhora, pelo que sucedeu!