Passei, e tão alheio de mim, que não veria Julinha e D. Matilde ali sentadas, se esta não me advertisse da minha falta.

— Boa-noite, doutor! Que distraído que ele está hoje!

— Perdão, D. Matilde! Como passou?... Ia com efeito, não distraído, mas ofuscado por tanto luxo e formosura. A culpa por conseguinte também lhe cabe, e em grande parte!

— Quando é que o senhor há de perder o costume de ser lisonjeiro?

— Quando a senhora quiser acreditar-me!

D. Matilde começou então a sua revista do baile, que eu escutei, sem ouvir. Emília estava ali perto; eu não a olhava, mas sentia.

— Julinha!... disse ela rindo. Sabes quantas contradanças já me fizeram aceitar? Quinze!..

— Se dançar-se a metade, será muito!

— Não, enganei-me, não foram quinze. Para a terceira não aceitei.

— Por quê? perguntou a prima.

— Guardei esta... para mim... para ficar sentada.

— Que lembrança!

— Depois... Quem sabe?... Talvez me resolva a dançar. Se me pedirem muito!...

Emília sorria dizendo essas palavras, e eu senti a luz de seus olhos ferir-me a vista.

Meus espíritos alvoroçados serenaram como por encanto. Reconheci-me o homem que fui e sou; frio e sempre calmo, durante o sono profundo e longo do