coração, o qual até agora felizmente só teve uma, mas bem cruel vigília.
Compreendi tudo; compreendi o olhar, o sorriso e o diálogo. Emília me provocava diretamente para lhe pedir aquela terceira contradança reservada; queria me ver suplicante a seus pés, e vil, apesar da primeira humilhação. Então, quando sua vaidade estivesse saciada, me insultaria de novo do alto de seu orgulho, flagelando-me as faces com um daqueles seus olhares de soberano desprezo.
Minto: eu não tinha compreendido nada. Ainda hoje, depois de tudo quanto sofri, sei eu compreender semelhante mulher?
Desde que entrevi a perfídia da provocação, cobrei a calma. Também tive o meu sorriso desdenhoso e o meu gesto de indiferença. Pedi a D. Matilde justamente a terceira contradança, e ela ma concedeu, apesar de já a ter prometido:
— Farei uma troca! disse-me. Dançarei a quinta com o Dr. Chaves.
Minha intenção foi convencer logo a Emília que ela se iludia. Desejava que não pairasse no seu espírito a mínima esperança de que eu me deixasse imolar ao seu orgulho. Ela bem me entendeu. Seu dente mimoso, mordendo o lábio, anunciou-me a sua cólera e a minha punição.
Esta não tardou muito.
Tinha-me eu retirado do salão, e estivera conversando numa das salas próximas. Dando a música sinal de que o baile