— Deste modo, Sr. Duarte, eu persisto ainda na minha primeira idéia ... na minha superstição. Especulo ainda! A minha primeira cura será sempre o melhor momento da minha vida; com o preço dela poderei remir da desgraça a uma pobre criatura! Ao mesmo tempo livro-o da violência que fiz à sua generosidade, recusando outrora o pagamento dos meus serviços.

Destas palavras, aquelas que tinham uma significação pecuniária, minha voz as pronunciava com tal aspereza que parecia querer dar-lhes o tinido metálico de moedas.

— Aqui tem a minha conta — concluí.

Emília estremeceu.

— Que é isso, doutor? exclamou o negociante ressentido. — Cem mil-réis?...

— Pelo tratamento de Emília? acudiu D. Leocádia.

— Acha que é muito?

— Ora, o senhor está zombando conosco! Pois havemos de lhe dar somente essa ridícula quantia pelo trabalho imenso que teve...

— Que trabalho! Umas vinte visitas, que para um médico principiante são generosamente pagas a cinco mil-réis!

— O que é que você chama visitas, doutor? Passar as noites em claro...

— Olhe lá, D. Leocádia. Eu me agasto com a senhora!

— Decididamente, Dr. Amaral, não lhe pago esta conta. Se quiser acrescentar uma cifra, bem!

— Neste caso ficaremos como dantes.