— Meu Deus! exclamei. — Que fiz eu para tanta felicidade!...
Uma circunstância unicamente me parecia obscura, depois da confidência de Emília. Era a maneira por que me tinha recebido a primeira vez depois da minha volta. Era sobretudo aquele olhar fulgurante de cólera, de tão soberba cólera! Não houvera nos seus olhos despeito só ou repulsão; houvera mais que ódio, profundo rancor.
Uma vez pedi-lhe a explicação desse olhar; ela enrubesceu:
— Não me pergunte isso!... Não lho direi nunca!
Dois dias depois da nossa conversa junto à cascata, fui a Matacavalos, onde esperava encontrá-la. Ia cheio dos enlevos de tão sonhadas esperanças, inundado da felicidade que borbotava em meu seio... Ia assim, transbordando dilúvios de imenso amor, que ansiava por se rojar a seus pés.
E bastou a sua presença para confranger de súbito as enérgicas expansões de minha alma.
Ela respondeu ao meu cumprimento com afabilidade; mas... Era a mesma afabilidade que dispensava à turba dos seus adoradores! Quanto achei doce o passado desdém, que ao menos me distinguia!
Emília mostrava ter completamente esquecido quanto entre nós houvera três dias antes. Uma vez no correr da noite quis falar-lhe. Vendo-me aproximar, toda sua pessoa envolveu-se de repente na frieza glacial, que de longe ainda já