— E a senhora?...

— E eu ainda não encontrei na minha vida.

— Não diga isso, D. Emília! A senhora não é feliz?

Tínhamos chegado ao terraço, onde as luzes, brilhando entre as grandes folhas das palmeiras imperiais agitadas pela brisa, faziam sobre o pavimento uma ondulação constante de claros e sombras. Algumas flores de magnólia exalavam para nós o seu fresco perfume.

— Não, não sou feliz — disse Emília descaindo-lhe a fronte. — Nada daquilo em que o mundo pensa que está a felicidade, nada me falta; e eu não a tenho; não sei achá-la onde todos a encontram a cada momento. Às vezes, quantas!... sinto um quer que seja, uma ligeira emoção, como um sorriso que vem despontando em minha alma. É talvez a felicidade, digo baixinho; e fico muda e extática para não perturbar dentro em mim esse débil raio que vai nascendo. Mas de repente some-se tudo, como se um abismo se abrisse: procuro minha alma nesse vácuo imenso, e não a sinto!

Emília falara maviosa e triste; nesse momento ela pôs os olhos em mim e sorriu.

— Se isto fosse uma enfermidade, o senhor curava-me; mas não é. E quem sabe? Talvez seja!

— Não é uma enfermidade, não; é outra coisa.

— O quê? Diga!

— Não será um sonho ainda não realizado?... Uma aspiração vaga e indefinida?

— Pode ser! Não sei!