atravessar o leito empedrado de um córrego que se precipitava pela frágoa (sic) escarpada. Seu pé resvalou; ela ia espedaçar-se. Estendi os braços para ampará-la. Repeliu-me com violência, exclamando irada:

— Deixe-me morrer, mas não me toque!

Outra vez, uma noite de partida, eu dava-lhe o braço. Numa volta, a minha manga, inadvertidamente, mal roçou-lhe o marmóreo contorno do seio. Ouvi como um débil queixume, que exalaram seus lábios. Voltei-me. Estava hirta e lívida, presa de uma rápida vertigem. Aniquilou-me com um olhar de Diana; retirou o braço; deixou-me imóvel e pasmo no meio da sala.

Uma semana não me quis falar. Quando afinal obtive o meu perdão, ainda me lembro do modo estranho por que me recebeu:

— É a segunda vez que lhe tenho ódio!

Soltando essa palavra, seu lábio túmido parecia sugar dela um gozo ignoto. As róseas narinas titilaram, enquanto os olhos, velando-se, afogavam num fluido luminoso.

Nessa mesma noite, como uma compensação do que a sua severidade me fizera sofrer, concedeu-me uma graça que eu nunca ousara esperar.

Dançava-se. Emília sofria como sempre a vertigem do baile, que era poderosa em sua organização.

Apesar da sutileza de beija-flor com que ela esvoaçava, não deixando as puras asas roçarem pelo mundo torpe, eu tinha ciúmes da