quem se esquiva de amar, não é avaro também da vida, avaro do seu coração e das riquezas de sua alma? A senhora o é, D. Emília! Oh! Não negue!

— Como ele se engana, meu Deus! exclamou Emília erguendo ao céu os belos olhos.

— Que diz?... Então posso acreditar enfim?

E murmurei arquejante:

— É verdade que me ama?

Nunca até aquele momento, durante dois meses vividos em doce intimidade e no conchego estreito de nossas almas, nunca a palavra amor fora proferida em referência a nós. Emília dava-me, como já sabes, todas as preferências a que podia aspirar o escolhido do seu coração, e assumira para comigo o despotismo da mulher amada com paixão. Ela imperava em mim como soberana absoluta. Seu olhar tiranizava-me, e fazia em minha alma a luz e a treva.

A fonte de minhas alegrias, como de minhas tristezas, manava de seus lábios. Se eles abriam-se, meu coração abria-se também, em flor ou chaga, conforme o sorriso era orvalho ou espinho.

Ela tinha consciência disso, mas persistia em chamar, ao sentimento que nos ligava, uma boa e santa amizade. Às vezes, que eu ousava começar o nome doce e verdadeiro do meu afeto, seu olhar incisivo cortava-me a palavra nascente; a minha culpa era rigorosamente punida com alguns dias de uma indiferença completa.

Naquela noite, porém, cuidei que era chegada