262 DOM JOAO VI NO BRAZIL
potencia quando a dotara para querer e dominar, ver e resol- ver por si, para ser uma Izabel d Inglaterra ou uma Catha- rina da Russia. For uma triste ironia, no emtanto, nem sequer Ihe foi dado mandar na sua casa, onde todos tinham mais voz do que ella, em cujo espirito primavam n um grau notavel os predicados que se conveio denominar masculines:
a energia, a actividade, a vontade.
Os tragos varonis e grosseiros do seu rosto, o seu ge- nero de preoccupagoes, o seu proprio impudor, denotam que em Dona Carlota havia apenas de feminino o involucre. A alma poderia chamar-se masculina, nao tanto pelo desejo immoderado de poder e pelo cynismo quanto pela pertinacia em alcangar seus fins e pela dureza. Os filhos herdaram-lhe a vida, o excesso de vigor animal, que ella nunca conseguio, porem, inocular no marido, pacifico e commodista. Tampouco logrou impor-lhe sua orientagao politica ou alistal-o ate o fim no servigo das suas pretengoes soberanas. Para que se exercesse efficazmente a sua influencia domestica precisaria ser se- cundada pela belleza physica que de todo Ihe faltava, ou por maneiras brandas e sinceramente carinhosas que eram avessas ao seu temperamento boligoso e desbragada educa-
gao.
E incontestavel que a propria apparencia Ihe nao dava entrada auctorizada no bello sexo. A estatura era muito baixa, disforme a figura, irregulares as feigoes, ainda afeia- das pela exhuberancia capillar da face, em volta da bocca de labios finos. A physionomia era comtudo expressiva, lendo-se-- Ihe nos olhos rasgados e negros a vivacidade e a decisao, assim como no queixo pontudo a malicia e a perfidia. Nao menos originaes do que os tragos eram alguns dos seus ha- bitos: se sahia, por exemplo, a cavailo, escanchava-se sobrc
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