DOM JOAO VI NO BRAZIL 263

o animal. Sua linguagem soia ser mais do que livre: era por vezes obscena, e muitos dos seus actos resentiam-se de uma extrema vulgaridade. Conta Presas ( I ) que um dia, ten- do-se Dom Miguel encharcado com a agua de um alguidar, a Rainha nao teve mao em si e, descalgando o sapato, appli- cou ao Infante endiabrado a correcgao de que se teria lem- brado qualquer regateira de mercado. Que nao valeu de muito a correcgao, provam-no as continuas travessuras, que ficaram proverbiaes, do futuro Rei legitimo, o qual nos ver- des annos, passadcs em Sao Christovao, se divertia em beliscar as irmas e atirar com dous canhoesinhos, presente do almi- rante inglez, sobre os visitantes do Palacio.

O trago convencionalmente ferninino de Dona Carlota era o amor das joias e vestidos, o fraco pelo luxo. N ella nao havia meiguices de mulher: apenas accesses de volupia em que prostituia o thalamo e a coroa. Tambem o marido, em quern entretanto nao escasseavam nobres sentimentos, nao sof- fria quanto a isso do mal de uma sensibilidade em extreme delicada. Segundo o familiar Presas, era elle "mas zeloso de su autoridad que de su augUsta esposa". E razao Ihe assistia porque esta procurou, durante o reinado, substituil-o no mando, legal ou illegalmente. Quando cornprehendeu que nada alcangaria em Portugal, por ser princeza estrangeira e para mais hespanhola, comquanto pessoalmente sympathisada, voltou suas vistas, a merce das circumstancias, para a Hes- panha e depois para a America Hespanhola, volvendo-as por fim de novo para o Reino, que ella fez estrebuchar em con- vulsoes politicas, servindo-se como agente da reaccao do In fante Dom Miguel, seu filho predilecto e docil instrumento.

��(1) Don Jose Presas, Mcmorlas secretas de la Princesa del (iciiutl Rein a riiulu tic J <irf]i<(/l, Ut Xcti-ora Dona Carlota Joa- qvina dc Borlion. Burdoos, 1830.

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