264 DOM JOAO VI NO BRAZIL
Trez annos antes da Ida para o Brazil, em 1805, che- gara a ambigao de Dona Carlota Joaquina a tomar corpo na mais vll conspiragao contra o Regente. Certos incommodos do Principe tinham-lhe trazido vertigens e mal estar, se~ gimdo explica o autor da Histoire de Jean VI, e juntando-se a impressoes moraes depressoras, bem comprehensiveis em quem se via collocado entre uma mai allucinada e uma mu- Iher impudica, augmentaram o seu natural retrahimento. Nao quiz mais cagar nem sequer montar a cavallo e votou- se a uma existencia perfeitamente sedentaria. Trocou Que- luz por Mafra, onde os frades o encheram de attengoes, mas ainda ahi enfastiando-se do canto-chao e das comeizanas, mu- dou-se para o Alemtejo, indo habitar o solar da familia em Villa Vigosa, levantado em meio de charnecas desoladas e povoado de tristes visoes, que sorriam umas e outras ao seu espirito atribulado.
Espalharam entao perversamente que estava doido como Dona Maria I, que a hypocondria de que soffria nao era senao a primeira phase da terrivel enfermidade, e parte da nobreza, a mais apegada as ideas antigas e a mais impa- ciente de organizar uma oligarchia em proveito proprio, pen- sou em destituir Dom Joao e confiar a regencia a Princeza do Brazil, a qual soubera fazer-se estimada nao so da aristo- cracia como da plebe. O segredo da conspiragao transpirou todavia. O Principe, que havia melhorado com os ares seccos e quentes de Villa Vicosa, teve urn assomo de vigor, filho do instincto da conservagao, e regressou subitamente para Lis- boa onde, guiado por Villa Verde, que foi o Salvador da si- tuagao, desterrou alguns dos fidalgos traidores e demittio um lote de empregados, affirmando sua auctoridade minada e cortando o voo a consorte.
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