286 DOM JOAO VI NO BRAZIL

mesmo mai extremosa, sendo sua filha favorita a Infanta Dona Anna Maria, mais tarde duqueza de Louie. Quiz tam- bem com exaltagao e vaidade ao filho Dom Miguel, vendo-se n elle moralmente reproduzida, por elle comprehendida e por intermedio d elle vingada. O interessante e que, com suas faltas, ambos foram personagens populares. O povo gosta sempre dos que Ihe fallam a imaginagao pela alacridade phy- sica ou pelo desassombro loquaz : tern por isso um f raco pelos athletas e pelos tribunes.

Tambem, ao que nos revela a correspondencia de Dona Carlota, nao havia protectora mais desvelada. Constante- mente importunando os ministros, pedia, rogava, suppli- cava, impunha favores para os seus afilhados, com estes con- stituindo uma roda sua dedicada que, mestre consummada na arte das intrigas, sabia perfeitamente quanto poderia vir a ser-lhe util para quaesquer designios. Com esses amigos era generosa na medida da sua antes magra dotagao de Princeza herdeira, a qual rendia nas suas maos porque nao Ihe faltava ao mesmo tempo o talento do calculo e da economia. Ainda assim nao lograva evitar ter que empenhar sua palavra, que n estes assumptos pecuniarios valia entretanto menos do que n outros, sendo quasi nullo o seu credito, mesmo porque care- cia de muito dinheiro para sustentar sua cathegoria de sobe- rana de facto e promover seus projectos diplomaticos.

No proprio modo de submetter-se a essas privacoes rela- tivas, dava comtudo mostras de dignidade porque esta era espontanea, derivava do seu caracter orgulhoso e imperioso, com faces de verdadeira rainha. Nao cedia uma pollegada dos seus direitos; nao tolerava um menoscabo da sua posi- gao; nao deixava uma so vez de insistir pelas distincgoes a que tinha jus; nao perdoava o minimo desrespeito. Nao raro

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