536 DOM JOAO VI NO BRAZIL

mente na Hollanda, achava culposa de Versos engolados e lingua d etiqueta", o que abona a independencia de esto- mago do critico; def-endia Camoes contra La Harpe, e edi- tava opusculos politicos. Tudo isto fazia sem ruido e sem ostentagao. Homem de sociedade, portuguez algum do seu tempo o foi de mais fino quilate, com seu perfume afran- cezado; nem mesmo Palmella, cujos habitos e gostos eram mais inglezes.

Fallava fluentemente as linguas franceza, ingleza e ita- liana; tinha relates nas melhores rodas dos centros cultos, rodas aristocraticas e rodas intellectuaes ; usava amplamente dos dons de trato ameno e engragado, merecendo que a du- queza d Abrantes fixasse nas recordagoes que escreveu a impressao do seu olhar esperto e espirituoso e da sua intelli- gencia encantadora (son petit Mil gris noir, malin et spin- fuel, et son charrnant esprit). Indolente no agitar-se pelas cousas publicas, o inverso de D. Rodrigo, essa especie de indifferenca sceptica mais do que sobranceira realgava a sua natural distinccao, que tudo n elle contribuia para mo- delar, porque era instruido sem ser pedante, sagaz sem ser velhaco, Mecenas sem se dar ares de protector, antes as- pirando a pertencer a grey profissional.

Luxemburgo, que nao votava sympathia a Barca por que o culpava de ter que regressar com a pasta de embai- xador vasia, quando de tao longe viera, nao podendo negar- Ihe o bem cenhecido merecimento, vingava-se em escrever que achara bastante mudadas "as ideas que na Europa Ihe valeram uma reputacao de homem de espirito e de luzes." Descrevia o enviado de Luiz XVIII o ministro de estran- geiros de Dom Joao VI como rodeado de intrigantes e su-

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