DOM JOAO VI NO BRAZIL 57

Apezar da assistencia ingleza, as incommodidades a bordo dos navios portuguezes foram, como era natural, con- sideraveis, sobretudo para as senhoras. E sufficiente referir que a bordo da Principe Real Jam 1.600 pessoas no calculo de O Neill. Descontando-se mesmo metade, pode-se imagi- nar a balburdfa que reinaria na nau. Muita da gente dormia no tombadilho, o que em latitudes tropicaes nao e um po sitive desconforto, mas o peor estava em que eram poucos os viveres. Relatando estes pormenores, o official britan- nico encarece repetidamente a attitude do Principe Regente que as informagoes ministradas Ihe pintaram rnuito delibe- rado, calmo e assente em tudo, como quem media perfeita- mente o alcance do acto que estava praticando. Este acto com ef feito nao era apenas de seguranga pessoal : trazia im- portantissimas consequencias politicas.

Para o Brazil o resultado da mudanga da corte ia ser, em qualquer sentido, uma transformacao. A politica estran- geira de Portugal, que era essencialmente europea no cara- cter, tornar-se-hia de repente americana, attendendo ao equi- librio politico do Novo Mundd, visando ao engrandecimento territorial e valia moral da que desde entao deixava de ser colonia para assumir foros de nagao soberana. E a nova na- cionalidade que assim se constituia, foi o acto do Principe Regente no extremo propicio pois que Ihe deu a ligagao que faltava e com que so um forte poder central e monarchico a poderia dotar.

D est arte o mostrou comprehender perfeitamente, com o senso philosophico que distingue os historiadores allemaes, o professor Handelmann, da Universidade de Kiel, ao ponde- rar no seu excellente trabalho (i) que ate entao represen- tava o Brazil nada mais do que uma unidade geographica

(1) GeschicJtte t on Brasilwn, Berlin, 1860.

�� �