DOM JOAO VI NO BRAZIL 1011
uma especie de conservatorio de musica para ensino dos
pretos, onde methodizavam suas aptidoes naturaes. Mesmo
depois de expulsos os padres, subsistiu esta tradicao, ao ponto
de ficar por tal forma impressionado o Principe Regente,
quando visitou aquella propriedade confiscada para a coroa,
com a relativa mestria da execugao vocal e instrumental na
egrejinha, que estabeleceu na fazenda escolas de primeiras
lettras, composicao musical, canto e diversos instrumentos.
Logrou d est arte Dom Joao que d alli sahissem boas
figuras para o pessoal nao so da capella real de Santa Cruz
como da do Rio, e mesmo que alguns dos alumnos chegas-
sem a tocar e cantar primorosamente. Dom Pedro, em quem
o gosto pela musica foi paixao e paixao cultivada com certo
esmero, protegeu muito a fundagao paterna, alcangando, se-
gundo se conta ( I ) , ter operas, adrede compostas pelos dous
irmaos Portugal, inteiramente executadas por aquelles afri-
canos e mestizos.
Tanto quanto a incomparavel musica, abrilhantava as festas de egreja do tempo a oratoria sagrada, entao no seu apogeo no Brazil. Envaidava-se Dom Joao VI- -e assim o repetiu frei Francisco de Mont Alverne - - de contar no Rio uma pleiade de pregadores que Ihe nao permittia nutrir saudades dos que deixara em Portugal. E com effeito dif- ficil pareceria em extremo, d outro modo, quem, para cantar os louvores da religiao e seus prototypos, celebrar as virtu- des evangelicas e exaltar os meritos e serviqos da dynastia, possuia em redor de si, para nao citar outras, as vozes elo- quentes do padre Souza Caldas com seus resaibos mysticos
��(1) Balbi, Essai siaiistique sur le royaumc de Portugal ct sc colonies.
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