A’ NOITE.


Teu ar merencorio, ó noite querida,
Agrada infinito ao meu coração;
Que as tristes ideias, que a mente me occupam,
Casar melhor vejo co’a tua soidão.

Apenas desdobras teu manto de anil,
Assim recamado de lindas estrellas,
Minh’alma, enlevada, bemdiz o Autor
De tantos prodigios, de noites tão bellas.

Eu gósto de ver-te, amiga deidade,
Porque só comtigo é que ouso ser franca;
De ti, só de ti confio os queixumes,
Que a sorte adversa do peito me arranca.