ela montava, e, auxiliado por gente armada, obrigou a a entrar violentamente em sua casa. Dado. conhecimento do estranho caso ao ouvidor do Funchal, por estar ausente o capitão donatário, compareceu este com uma numerosa força armada, tendo esta que defrontar se com a resistência que ia opor lhe António Gonçalves, pois se preparava para desobedecer às ordens do ouvidor, conservando D. Isabel de Abreu presa em sua casa. Estava iminente uma encarniçada luta, em que de ambas as partes havia partidários, parentes e amigos, quando António Gonçalves da Câmara e Isabel de Abreu, assomando a uma varanda da residência, declararam que tinham chegado a um amigável acordo e que podiam retirar se o ouvidor e a força que o acompanhava.

Quando estes se dispunham a partir, fez D. Isabel de Abreu sentir ao seu prometido esposo que, "vindo com o Ouvidor muitos parentes seus e amigos, não era razão que sem comer se tornassem por tão comprido caminho e, já que tudo estava em paz, os convidasse". Acatando os desejos de D. Isabel de Abreu, mandou António Gonçalves, que "entrasse o ouvidor com a sua gente, alcaides, meirinhos e juízes de todas as vilas e logares daquela capitania na sala, e arremeteu D. Isabel e apegou se a ele dizendo e queixando se que António Gonçalves forçosamente a tinha naquela casa e que lhe valesse com justiça". Na companhia do ouvidor e dos cento e cinquenta homens que compunham a força armada, seguiu D. Isabel de Abreu para o Funchal, indo, porém, pelo adiantado da hora, pernoitar nas casas de seu cunhado João Esmeraldo, que eram na Lombada da Ponta do Sol, sede do morgadio do mesmo Esmeraldo.

António Gonçalves da Câmara não era homem para se resignar a sofrer um novo ludíbrio, que ele considerava a maior das afrontas, por parte da mulher que queria conquistar, levado pela violência do amor, pelo orgulho ofendido ou pela ambição de possuir a sua fortuna logo se preparou para a desforra, e desta vez resolvido às mais extremas violências. Reuniu imediatamente vários parentes e amigos e muitos homens armados das freguesias visinhas, sem exclusão de ladrões e assassinos, que por ali andavam homiziados, preparado também com dois falcões, que eram peças de artilharia do tempo, afim de atacar as casas onde se encontrava D. Isabel de Abreu com os oficiais de justiça. Pôs lhe apertado cerco, até que, no fim de oito dias, considerando os parentes de D. Isabel os males que podiam resultar desta luta sangrenta, resolveram que o casamento se realizasse, pondo se deste modo termo a uma contenda em que entravam, além de muitos outros, quatro irmãos, dois de cada lado, prestes talvez a mutuamente se darem a morte.

"Chegados D. Isabel de Abreu e António Gonçalves da Câmara, diz Gaspar Frutuoso, à sua fazenda, el recebendo se ambos, foram feitas grandes festas e bodas, em que comeram todas aquelas pessoas que os14