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não têm ideal—mas começam por letra pequena. As suas criticas não têm idêas—mas têm palavras quantas bastem para um diccionario de synonimos. Os seus poemas lyricos não são methaphysicos, não precisam d'uma excessiva attenção, de esforços de pensamento para se comprehenderem—e têm a vantagem de não deixarem ver nem um só ideal. Nas suas obras todas ha uma falta tão completa d'essas incomprehensibilidades, que deve pôr muito á sua vontade os leitores que v. ex.ª têm no Brasil. V. ex.ª diz tudo quanto se pode dizer sem idêas—boa, excellente receita para não cahir nas nebulosidades do ideal. Os seus escriptos são optimos escriptos—menos as idêas: e é v. ex.ª um grande homem—menos o ideal.

Dante, que era um barbaro, e Shakspeare, que era um selvagem, é que rechearam as suas obras de ideal. Victor Hugo tambem cáe muito nesse defeito. V. ex.ª é que o tem sempre evitado cautelosamente, e por isso não é um barbaro como Dante, nem selvagem como Shakspeare, nem um máo poeta como Victor Hugo. Não é Dante, nem Shakspeare, nem Hugo—mas é amigo do sr. Viale, que falla latim como Mevio e Bavio.

Mas, ex.mo sr., será possivel viver sem idêas? Esta é que é a grande questão. Em Lisboa, no curso de lettras, na academia, no conselho superior, no gremio, nos saraus de v. ex.ª, dizem-me que sim, e que é mesmo uma condição para viver bem. Fóra de Lisboa, isto é, no resto do mundo, em Paris, Berlim, Londres, Turim, Goettingue, New-York, Boston, paizes mais desfavorecidos da sorte, na velha Grecia tambem e mesmo na Roma antiga, é que nunca poderam passar sem essas magnificas inutilidades. Ellas o muito que têm feito é servirem de entretenimento aos visionarios como Christo (um metaphysico bem nebuloso), como Socrates, como Çakia-Mouni, como Mahomet, como Confucio e outros sujeitos de nenhuma consideração social, que se entretinham fazendo systemas com ellas, e com os systemas religiões, e com as religiões povos, e com os povos civilisações, e com as civilisações codigos, leis, sentimentos, amores, paixões, crenças, a alma emfim da humanidade, cousa que se não vê nem rende, e é tambem inutil e incomprehensivel. Eis ahi o mais a que as idêas têm