com esse golpe. A morte de D. Julieta, que ele ainda não esqueceu, nem esquecerá, causou-!he uma espécie de paralisia moral. Durante dois meses não pronunciou uma palavra; vivia mecanicamente; era um autômato movido por um velho criado, o Abreu, cuja dedicação por ele é a de um pai extremoso. —Tenho visto este criado; se não me engano é quem governa a casa.

—Estava eu resolvido a passar algum tempo em Paris para dedicar-me aos estudos de minha profissão.

Apressei a partida para levar Carlos comigo e distraí-lo. Nem a viagem, nem o turbilhão da vida parisiense produziram o resultado que eu esperei. Continuava indiferente a tudo; nada o interessava; nada prendia-lhe a atenção.

—Então, doutor, sempre houve alguma coisa?

— Sem dúvida, mas não demência. O estado de Carlos era simplesmente uma insensibilidade moral: um desprendimento do mundo, que o tornava impassível ao movimento social. Vivia em si e de si, das recordações que enchiam sua alma. Nunca, porém, eu notei no seu espírito a menor vacilação, e muito menos um desvario. Quanto aos estranhos, viam nele um homem frio, concentrado, de poucas falas, mas de juízo seguro e talento refletido.