Queimais vossa esperança. Aqui me tendes,
Eis vosso Ascanio.» E aos pés o elmo vão lança,
De que armado exercia a falsa guerra.
Enéas se accelera, e o phrygio bando.
700A buscar brenha ou lapa em que se escondam,
Pelas praias com medo ellas se esgarram:
Á luz fogem de pejo, e arrependidas
Juno removem d’alma, aos seus tornadas.
Nem por isso domou-se a voraz peste:
705Sob o molhado roble viva a estopa
Tardo fumo vomita, e o vapor lento
Roe os porões, no amago se atêa;
Não valem jorros d’agua e heroico esfôrço.
Dos hombros rasga a veste, e aos céos Enéas
710Supplice as palmas tende: «Ó Jove excelso!
Se um por um, padre, os Phrygios não detestas,
Se inda humanos trabalhos te apiadam,
Da chamma agora a frota me preserves,
D’Ilio a tenue reliquia ao menos poupes;
715Ou, que mais resta? esmague-me o teu raio,
Mata-me, se o mereço.» Acaba; e ronca
Desmedida, furiosa, atra procella,
Dos trovões estremece o monte e o valle;
Turvo, engrossado pelos densos austros,
720Aguaceiro estupendo alaga as pôpas:
Semi-ardidos carvalhos se humedecem,
Té que extincto o vapor, tragadas quatro,
No corpo das demais cessa o contagio.
Do agro desastre Enéas combatido,
725Cem razões versa n’alma, hesita incerto
Se na fertil Sicilia esqueça os fados,
Ou se á Italia prosiga. O velho Nautes,
Sabio adivinho de Minerva alumno,
Tramas de irosos deuses explicando
730E o que ordena o destino, assim o anima: