Té que, perfeito o gyro, a mão do tempo
Gasta o impresso labéo, depura a flamma,
O senso ethereo e simples aura afina.
Voltos mil annos, as convoca em turmas
770Ao rio um deus; porque ellas, do passado
Esquecidas, revêr a esphera queiram,
E entrar de novo nas prisões corporeas.»
Cessa Anchises; a Enéas e a Sibylla
Traz ao mais basto da ruidosa turba;
775Um combro toma; donde a extensa fila
Devise dos que vem, e a todos possa
Os traços discernir. Então prosegue:
«Eia, a glória que os Dárdanos espera,
Do italo tronco os descendentes nossos
780Que a fama illustrarão dos seus maiores,
Hei de explicar-te, e aprenderás teus fados.
Notas? proximo á luz por sorte, um joven
Se arrima em hasta pura: ás auras, misto
Latino sangue, surgirá primeiro,
785Silvio, posthumo teu, de nome albano;
Que tardio, a ti já na eterna vida,
Te ha-de Lavinia produzir nas selvas;
Rei, de rêis gerador, por onde os nossos
Tem de vir de Alba-longa a ser senhores.
790Segue-se Procas, dos Troianos honra;
Capys e Numitor; mais Sylvio Enéas,
Que te avive e recorde, e, obtendo o reino
Cobrar, te imite bellicoso e pio.
Olha, os mancebos quanta fôrça ostentam!
795Aos que civil carvalho ensombra as testas,
Esses Nomento e Gabios e Fidenas,
Esses Collacia te alçarão nos montes,
Eximia no pudor; Pomecia altiva,
Castro d’Inuo juntando, e Bola e Cora:
800Ermos ignotos, no porvir famosos.