um menino gracejasse á vista das mesas de massa que se tinham tragado, e que sem pensar no fado então se exprimisse. Enéas, sôbre quem recahiam os maiores cuidados, he que devia dar primeiro pelo cumprimento dos oraculos; tanto assim, que meditando no caso, rompeu na exclamação. Ora, não he provavel que o mesmo que Iulo tinha percebido immediatamente, só o fôsse depois de algum espaço por Enéas, que aliás pensava a miude nessa fome, que o obrigaria a roer as proprias mesas. Sigo portanto a interpretação antiga, que he a de Annibal Caro e do maior número; engeitando igualmente a de João Franco, que dá ao alludens a significação de alludir, mas traduz no sentido de que Iulo não alludia, quando o Snr. João Gualberto opina que alludia; o que he inteiramente opposto. A accepção de alludere por gracejar he corrente nos autores latinos.

128-129. — 130-131. — «Aqui ha, diz Mr. Tissot, uma singular inadvertencia. Como o principe, que ouvira á Sibylla: «Guerras, horridas guerras; vejo o Tibre a volver ondas de sangue humano!...» Como o guerreiro que tem um rival que debellar, povos que submetter, uma espôsa e um throno por conquistar, pode affirmar que toca o fim dos seus trabalhos?» — Alêm de que positura modum não he exactamente tocar o fim; o poeta só falla dos trabalhos de uma longa viagem de sete annos, a qual se acabou desde o momento em que, reconhecendo o lugar proprio para se fortificar, Enéas saudou a terra promettida; mas, quanto á guerra, era um novo trabalho que nem começado estava. De mais, o chefe, que via findar-se a navegação perigosa e prolixa, para animar os seus usa de termos que indiquem e persuadam que o restante não he de tanta monta como as lidas passadas. Não sei como faz taes reparos quem está habituado ao estilo conciso do poeta, e em geral dos escritores latinos. E não se poderá accrescentar que esse guerreiro, que tanto estremeceu com a idéa de morrer no mar sem glória nem sepultura, agora avaliava em bem pouco os perigos dos combates, que seu valor esperava superar? Esta supposição realça-lhe o heroismo, e como o texto em nada a desmente, não he muito attribuir um tal pensamento a tam sublime autor.

147. — 148. — Cratera era um vaso maior que a taça (patera), e nella vinha para a mesa o vinho, e dalli se iam enchendo os copos. Uso ás vezes do termo latino cratera; mas, quando não cabe no verso, nunca o substituo por taça, mas por copa. Ainda que vulgarmente se confundam estes dous vasos, a taça he mais pequena, e a copa vem do latim cupa, que significa uma talha, ou um vaso de tanôa.

312. — 313. — A falla de Juno, e em especial este verso tem