sido por todos admirado. A deusa, não podendo alhures encontrar auxiliares contra Enéas, convoca Alecto para accender a discordia e a guerra. A acção ganha aqui novo interêsse, e começâmos a enxergar os novos trabalhos que tem de sobrevir aos Troianos. Não posso alcançar o porque varios criticos acham este livro um tanto frio: só vejo que o poeta segue a sua fábula com discrição, e destribúe sabiamente as partes, sempre com o fito no desfecho da obra.

351-405. — 343-408. — Principia com Alecto. Esta introduz o seu veneno em Amata. Amata foge com Lavinia, depois que[1], buscando reduzir o marido a favor de Turno, não o poude conseguir. Sacrifica a Baccho, excita as matronas contra Enéas, promette que a filha só será de seu sobrinho Turno. Tudo isto he com uma rapidez, com um estilo, com movimentos inimitaveis; mas a crítica tem censurado a passagem em que a raínha, desesperada e a vaguear pela capital, he comparada a um pião, que rodopia tocado pela trena dos meninos. Delille, com prudente reserva, diz que não ousa affirmar que esta comparação quadre perfeitamente á poesia epica; mas que he mister convir que o vulgar do assumpto he compensado pela riqueza das imagens e das expressões; podendo ajuntar-se que o poeta latino procurava rebaixar o caracter de Amata, e convinham-lhe para sujeito da comparação as cousas mais communs.

406-474. — 409-477. — Depois que Alecto espalha a desavença no seio da familia de Latino, toma a figura de uma velha sacerdotiza de Juno, e vai excitar a Turno. He aqui principalmente que a pintura desta Furia sobe ao cume da perfeição. Os discursos della e de Turno, o acordar deste bradando por armas e procurando-as em tôrno do leito, as ordens violentas e immediatas, a comparação com a agua a ferver e a trasbordar da caldeira, as imagens que o poeta emprega, a prompta obediencia dos Rutulos, tudo he da mais bella composição; tudo presagia a procella que vai desfechar. Este livro setimo he o preparativo para os outros; faz o officio do primeiro acto de uma tragedia; e, como deixa em suspenso o leitor, alguns não o apreciam devidamente: cumpre consideral-o em relação aos subsequentes , para se avaliar todo o artificio do autor.

475-504. — 478-507. — Para servir a Juno, Alecto não descança: vai têr ao sítio em que Iulo caçava, e pondo o cheiro de um veado nos focinhos dos cães, os faz correr atrás delle; Iulo, indo após os cães, atira e mata o veado: este por acaso era um cervo manso da filha de Tyrrheu, maioral e couteiro do rei; e daqui se originou uma peleja entre os aldeãos latinos, excitados pelos queixumes da dona do cervo, e os Troianos que vem em defesa de Ascanio. Macrobio, com outros criticos, julga pequena a

  1. No original, está depoisque.