Ara Maxima, existia em seu tempo no forum Boarium, e era de prodigiosa grandeza. Ora sendo assim, conforme tambem se colhe de Propercio e de Ovidio, não vejo o porque Heyne acha o lugar indigno do poeta; o qual tinha em vista, como por vezes havemos notado, celebrar as antiguidades romanas, mórmente as do sítio em que he fundada a cidade eterna. Repare-se que, ao diante, elle não se descuida do seu proposito, fallando da porta Camental, do Lupercal no Palatino, do bosque Argileto, do Capitolio, do Tarpeio, e fazendo o contraste de começos tam humildes com a magnificencia da côrte de Augusto.

363-453. — 364-448. — Este episodio entre Vulcano e Venus, tudo que se passa na officina dos Cyclopes, he da mais alta poesia. Ao depois, no fim do livro, se faz a descripção das armas pelo deus encommendadas, e do broquel em que elle proprio trabalhou. Sendo uma imitação de Homero, concordam todos que he muito superior ao lugar da Iliada; pois o que vem gravado no broquel de Achilles, podia pertencer a qualquer outro guerreiro; e o que vem no de Enéas, lhe he proprio e particular, por ser um vaticinio do que tinha de acontecer aos seus descendentes.

558-593. — 549-584. — A falla de Evandro he uma das mais ternas do poema, e realça o caracter do rei. — He admiravel o perfeito quadro que representam os dous versos 592-593, vertidos nos meus 587-588. — Veja-se Delille, tanto ácêrca da falla, como dos versos.

594-596. — 585-587. — He bem conhecida esta passagem por causa do último verso, cuja onomatopeia imita o galope dos cavallos. Tratei de exprimil-a, e para isso preferi o termo antigo ungula ao moderno unha ou casco, que não tinham um som conveniente.

670. — 662. — Na descripção do escudo vem a figura de Catão de Utica a dictar o direito. Este só rasgo mostra o rigorismo dos que chamam o poeta adulador de Augusto. O pobre filho do camponez que, sendo despojado da sua herdade, a recuperou por graça do senhor do mundo, necessariamente lh'o havia de agradecer, e o meio era louval-o em seus versos; nem elle se tinha jamais apresentado como homem político, para ser esse louvor uma contradicção com a sua vida passada. Reflicta-se que Virgílio só gaba o bom que Augusto praticava para apagar o pessimo que fez quando Octavio; e, escrevendo a respeito das guerras civis, fulmina a todas, sem destinguir entre o seu protector e os contrarios. Louvou porêm ao mesmo tempo os inimigos de Augusto em quem achava merecimento e virtude, como nesta passagem a Catão, como a Gallo