162-163. — 157. — «Mr. Tissot, diz Mr. Villenave, com razão se maravilha de que Evandro nada ache louvavel em seu amigo velho senão a estatura: Cunctis altior ibat.» Os dous criticos se mostraram bem pouco sabedores da[1] opinião dos antigos neste ponto: elles criam que a altura era propria dos heroes, e que só por excepção podia ser valente um homem de pequeno talhe. Chateaubriand, que gyrava em outra esphera de erudição, no livro II dos Martyres, na bôca de Demodoco põe o que dou aqui traduzido por Francisco Manuel: «Bem que aos paes nunca em talhe igualem filhos, E ao pae ceda em vigor e em talhe Eudoro, Pelo talhe de heroe o eu conhecera.» Evandro pois da superioridade da estatura de Anchises infiria que elle se avantajava em fôrças e denodo. O mais forte e corajoso dos Gregos, segundo Homero, era tambem o mais alto e esbelto.

190-267. — 185-261. — O poeta não tirou o episodio de Caco da sua imaginação; o facto era contado pelos historiadores: Dionysio de Halicarnasso e Tito Livio o referem. He sabido que este pedaço he uma obra prima, pela harmonia, pelas imagens, pela belleza das expressões e pelo todo da narração. Delille traz excellentes reflexões ácêrca deste episodio, e a Delille me reporto. Observe-se a arte com que se introduz esta fábula: como Enéas encontra a Evandro no acto de celebrar um sacrificio a Hercules, sacrificio a que se associou por convite do mesmo Evandro, era bem factivel que este lhe explicasse a causa; e assim o episodio nasce da acção com naturalidade. Tem-se opinado que a pompa do estilo e a rapidez parecem não conformar com a velhice do rei, cuja imaginação devera ser mais lenta; porêm a excitação em que elle se achava, a religiosidade propria do seu caracter e mesmo dos seus annos, justificam plenamente o tom solemne da narração de uma façanha de que fôra testemunha: os velhos tomam fogo ao se transportarem ás cousas do seu tempo. — A opinião dos antigos, fundada em inscripções, bem como a da maior parte dos modernos, he que a caverna de Caco era vulcanica, junto ao monte Aventino; mas Mr. Bonstetten differe: «Não ha ahi caverna de Caco; a de Virgilio existiu certamente nos arredores de Roma. Uma conheço eu não longe do Aventino, da outra banda do Tibre, no Monte-Verde, pouco mais ou menos como elle descreveu a de Caco. O governo a fechou para que não servisse de couto aos Cacos modernos, isto he aos ladrões. He voz que a fábula de Caco tinha por fundamento historico a lembrança de um volcão; não ha probabilidade alguma de que o houvesse no Aventino, cujo local a isso repugna absolutamente.»

271-272. — 265-266. — Heyne e outros pensam que ha aqui interpolação. Refere porêm Servio que o altar de Hercules, chamado

  1. No original, está do.