A cidade em ruína, a espôsa extincta,
Latino attonito espedaça as vestes,
E as cãs em pó denigre enxovalhadas;
Muito se accusa de não têr a Enéas
595De grado recebido e acceito genro.
Remoto o bellaz Turno, menos lesto,
Já dos frouxos cavallos descontente,
Persegue uns trasmalhados: eis que as auras
Trazem-lhe terror cego e vozeria,
600E os ouvidos attentos lá percebem
Murmuro desalegre e som confuso:
«Ai! que rumor tamanho[1], lucto quanto
Rue dos oppostos perturbados muros?»
Dice, e as bridas retem, sem tino estaca.
605Mas a irmã, que em Metisco disfarçada
Regía o coche, lhe tornou: «Sigamos
A via, Turno, que a victória indica;
Braços ha na cidade que a defendam.
Se ataca Enéas e atropela os nossos,
610Com fero estrago os seus tambem rendamos:
Não te irás inferior na glória e feitos.»
Turno: «Irmã, respondeu, muito ha conheço;
Es tu que arteira, desmanchando o ajuste,
Na acção te ingeres: não me enganas, deusa.
615Quem te enviou do Olympo a tantas lidas?
Vens do irmão assistir ao cru trespasso?
Que resta? que inda espero da fortuna?
Ante os meus olhos, só por mim chamando,
Murrano acaba, o meu melhor amigo,
620De atroz ferida; o caro Ufente expira,
Por não testemunhar a affronta nossa:
Possue-lhe o corpo e as armas o inimigo.
Soffrerei, duro transe! os tectos rasos,
Sem que a Drances refute a dextra minha?
625Vêr-me o Lacio dar costas! fugir Turno!

  1. Temanho no texto original; erro tipográfico corrigido na segunda edição.