Pois morrer tanto custa? Vós ó manes,
Já que os céos me aborrecem, protegei-me:
Alma insonte e sem mancha, á Estyge baixo,
Dos meus grandes avós não terei pejo.»
630Nisto, Saces no espúmeo alado bruto
Entre as filas hostis, frechada a cara
Mostrando, implora a Turno: «Es nosso amparo,
Turno; dos teus ha dó. Fulgúreo Enéas
De exicio ameaça as fortalezas nossas;
635Já voam fachos. Em ti só fitamos
Os olhos, Turno, em ti: na escolha mesmo
De genro ou de alliança el-rei tituba;
E a raínha fiel, desesperada,
Suicidou-se a final. Messapo e Atinas
640Sustentam sós ás portas o conflicto;
Ferrea hirta messe, densa turba os cérca:
Tu no deserto prado o coche rodas!»
Turno, ao se afigurar tam varios casos,
Tacito e quedo embaça; lucto, insania,
645Vergonha, amor, estuam-lhe no peito,
Furias e o conscio brio. Assimque as trevas
Dissipa e a mente acalma, conturbado
A vista em braza revirando aos muros,
Do seu carro contempla a gran’cidade.
650Eis que um vortice flammeo, ao céo montando,
Ondêa entre os soalhos de uma tôrre,
Que elle erguera de traves bem compactas
Com rodas e altas pontes. «Não me estorves;
O fado vence, irmã: já já corramos
655Onde elle e um deus nos chama. Com Enéas
Braço a braço, a tragar a morte acerba
Disposto, irmã, não me verás sem honra:
Ah! deixa-me antes em furor cevar-me.»
Dice, e do carro apêa: entre armas e hostes,
660Largando a irmã chorosa, pelo meio