Que a sorte que temia em mim recaia.
Negreja o dia infausto: o rito encetam,
Cingem-me a venda, o salso farro aprestam.
Rompo as cordas, confesso, a morte evito;
140Nos juncos de um paul me abriga a noite,
Emquanto ás vélas davam, se he que as deram.
Nem mais espero vêr meu ninho antigo,
Nem meu querido pae, meus doces filhos,
Que víctimas quiçá por mim padeçam,
145Esta fuga expiando. Pelos deuses
Que attesto, exoro, se entre humanos inda
Ha limpa fé, tem mágoa de ancias tantas,
Perseguida innocencia te commova.»

De puro dó a vida lhe outorgámos;
150E o mesmo rei, mandando allivial-o
De algemas e prisões, lhe dice affavel:
«Qual sejas, serás nosso, os teus deslembra.
Quem, falla-me a verdade, o immano vulto
Fabricou desse monstro? a que o destinam?
155He religião? he máchina de guerra?»

Imbuído o falsario em dolo argivo,
Sôltas palmas levanta, e aos astros clama:
«Eternos fogos, inviolavel nume,
Aras, cutellos, que evadi, nefandos,
160Mortal banda que a fronte me adornavas,
Testemunhas me sêde: os meus renego;
Trahido eu possa ao claro descobril-os:
Juramento nem lei me liga á patria.
Se alto arcano revelo, em ti fiado,
165Tu, salvada por mim, salva-me ó Troia.
Sempre a Grecia no auxílio de Tritonia
Estribou seu triumpho, até que ousaram
Impio Tydides, sceleroso Ulysses,
Matando os guardas, o fatal palladio
170Roubar do santuario, e á deusa as fitas