Virgineas profanar com mão cruenta.
Os Danaos, da esperança decahidos,
Afrouxam de energia. Bem mostraram
Varios prodigios a aversão de Pallas:
175Posta a effigie entre nós, dos hirtos lumes
Fuzis desprega, em salso humor escorre,
Do chão tres vezes, oh milagre! pula,
E a rodela desfere e a lança trémula.
Que o mar se tente asinha o canta o vate:
180Que em vão dardejam Troia, se indo em Argos
O auspicio renovar, não reconduzem
O em curvos bojos transportado nume.
E, se á patria Mycenas já navegam,
Vam refazer-se e grangear os deuses;
185Mas, repassando o pelago, improvisos
Serão comvosco: a profecia he esta.
Da diva em desaggravo[1], amoesta-o Calchas,
De ligneas traves, em lugar da estatua,
Esta mole estupenda construíram;
190Que pelas portas, altaneira ás nuvens,
Nem possa entrar na praça, nem do povo,
Segundo a crença antiga, ser custodia:
Pois, se braço troiano o dom violasse...
(Antes ao vate o agouro os céos convertam)
195Raso iria este imperio; e, se vós mesmos
Dentro o mettesseis, desceria armada
Asia em pêso ás muralhas pelopéas,
Fado que abarcaria os nossos netos.

Do perjuro Sinon foi crido o engano;
200E aos que Tydides, nem o Larysseu,
Dez annos, quilhas mil, nunca domaram,
Vencem dolos e lagrimas traidoras.

Nisto, o monstro maior, mais formidavel,
Impróvidos nos turba. Á sorte eleito,
205O antiste Laocoon com sacra pompa

  1. desaggavo no texto original; erro tipográfico corrigido na segunda edição.