mau irmão, mau tudo. Fez todo o mal que pôde a este mundo; e no Inferno, onde está, se a religião não mente, deve ainda fazer mal ao Diabo. Este moço falou há pouco em rei mártir, — continuou mostrando-lhes um retrato de D. Miguel de Bragança, meio perfil, sobrecasaca, mão ao peito, — este é que foi um verdadeiro mártir daquele, que lhe roubou o trono, que não era seu, para dá-lo a quem não pertencia; e foi morrer à míngua o meu pobre rei e senhor, dizem que na Alemanha, ou não sei onde. Ah! malhados! Ah! filhos do Diabo! Os senhores não podem imaginar o que era aquela canalha de liberais. Liberais! Liberais do alheio!
— É tudo a mesma farinha, reflexionou Paulo.
— Eu não sei se eles eram de farinha, sei que levaram muita pancada. Venceram, mas apanharam deveras. Meu pobre rei!
Pedro quis responder ao remoque do irmão, e propôs comprar o retrato de Pedro I. Quando o lojista tornou a si, começou a negociar a venda, mas não puderam entender-se no preço; Pedro dava os mesmos oitocentos réis do outro, o lojista pedia dois mil-réis. Notava-lhe que estava encaixilhado, e Luís XVI não; além disso, era mais novo. E vinha à porta, a buscar melhor luz, chamava-lhe a atenção para o rosto, os olhos principalmente, que bela expressão que tinham! E o manto imperial...
— Que lhe custa dar dois mil-réis?
— Dou-lhe dez tostões; serve?
— Não serve. Mais que isso me custou ele.
— Pois então...
— Veja sempre. Pois isto não vale até três mil-réis? O papel não está encardido; a gravura é fina.
— Dez tostões, já disse.