BRASILEIRA
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«Nada ha como a proscripção para descobrir os mysterios do coração humano; basta que a intelligencia se concentre no seu pensar para que harmoniosas vibrem as cordas da harpa celeste, que reside n'alma; a poesia apparece sempre magestosa e sublime nas amarguradas e solemnes horas do exilio; é o anjo que esvoaça em torno, alimentando as saudades da patria com o balsamo suave e resignado da religião: é o cysne que solitario e bello, melancolico e amoroso, corta as aguas do lago, e como que pranteia a ausencia da companheira; as aguas do rio que corre placidamente, o vento que sussurra nas palmeiras, o cantico que a ave agreste das solidões echôa, como echoou nos primeiros dias da vida, na idade infantil, tudo é poesia no exilio, porque a imaginação se perde na eternidade o pensamento vôa e o homem se não prende a terra se não pelo vinculo da dor saudosa dos passados pra- zeres. » [1]

Na mocidade, em os bellos tempos de sua vida academica, José Bonifacio sacrificara as musas compondo poesias de subido estró e animação, em que apparece o grande cabedal de erudição, que possuia nas litteraturas antigas e modernas. [2]

A politica viera depois partir a cadêa brilhante de suas tradições litterarias.

  1. Plutarcho Brasileiro do Sr. Dr. Pereira da Silva, 2º, 135.
  2. Essas poesias José Bonifacio colleccionou-as no seu desterro, e publicou-as em Bordéos em 1825 sob o titulo — Poesias avulsas de Americo Elysio. São dedicadas aos brasileiros, aos quaes o autor, no prologo, dirige estas palavras: «Que eu seja teu amigo, algumas provas já tenho disto dado; e para t'as continuar a dar no meu