O meu gozo maior era sentir-lhe o coração, contar-lhe as pancadas acertando-as pelas do meu. Sorriamos entretidos em tal enlevo e, docemente, as nossas cabeças procuravam-se atraídas, colavam-se as nossas bocas: eu respirava o hálito do seu seio, e ela recebia a respiração do meu peito e, trocando o alento, vivíamos da atmosfera íntima em que as nossas almas pairavam.

E assim, embebidos um no outro, chegávamos a esquecer as horas. A noite surpreendia-me, e como havia eu de senti-la se tinha o azul luminoso daqueles olhos e o esplendor astral daqueles cabelos de ouro?.

Siva, sem jamais demonstrar despeito pela preferência com que eu distinguia e ameigava a sua companheira, foi rareando as visitas, até que se limitou a aparecer-me uma só vez, de manhã, detendo-se no limiar da porta, mudo, imóvel, de olhos baixos, à espera de ordens. Recebia-as e retirava-se e em todo o resto do dia nem o rumor dos seus passos soava nos arredores.