O som é como o fumo dos incensórios — uma prece alada.
Nos templos, primitivamente, ao lado dos defumadores, ressoavam as liras e as ondas, geminadas, subiam o mesmo voo — as de aroma em nuvem; as sonoras em melodia. Em poema é o que é — uma estratificação de ideias: a estátua e uma cópia da vida paralisada; o edifício e um conjunto de linhas inflexíveis: a pintura é a visão de um ponto no espaço à luz de um raio de sol. O canto e hálito, alma, e, sendo alma, é essência.
A vida é um ritmo que se desdobra em ritmos como a vaga se multiplica em ondulações.
Atirando a mão ao acaso feriu uma nota ao piano — o som vibrou, ressoou, foi esmorecendo e extinguiu-se.
Ele levantou o braço e fez, com o dedo hirto, um gesto terebrante, murmurando: A espiral... A espiral...
Chegou à janela e, um momento, esteve calado, mergulhando os olhos na escuridão exterior. Logo, porém, voltando-se, prosseguiu: