O “natural” devia ser a vida feliz que eu levara junto do Mestre, servido por todas as forças maravilhosas do céu e da terra, atendido em todos os meus desejos, consolado nos meus pesares, acoberto do frio, defendido do sol, forte e sadio e vendo, à volta de mim, no mais agro inverno, as flores abrolhando, os frutos amadurecendo e ouvindo, deliciado, o canto meigo dos passarinhos. O natural lá ficara com os encantamentos, com os prodígios realçados pela Bondade.

O sobrenatural só então me aparecia à sombra dos templos de Deus, aos pés esmagadores da inflexível Justiça: era aquilo — uma balança com as duas conchas opostas: em uma pesando, para guindar a outra à felicidade, a miséria, lágrimas, só lágrimas. O sobrenatural era aquilo.

No vasto salão do hotel, ao fulgor ofuscante das luzes que se reproduziam nos tremós e lampejavam nos mármores, por entre as mesas floridas onde a baixela fulgia e os cristais chispavam, era incessante a afluência: homens, trajando a rigor, com grandes