nas vielas nojosas onde vermina um povo lúgubre, espectral, doloroso: homens, mulheres, crianças arrepanhando farrapos imundos à nudez macilenta, estendendo a mão descarnada, cercando-nos, a alrotar pedidos, investindo com feição sinistra ou rastejando, a chorar.

Seres hediondos que desbordavam das baiucas lôbregas, uns esquálidos, tiritando de febre, outros de um roxo apoplético, cambaleando ébrios, rouquejando torpezas ou vociferando pragas; pequenitas impúberes, esfarrapadas, que nos tomavam pelo braço com cinismo devasso — crianças que não conheceram a inocência — esbagaxando os peitos esqueléticos, quebrando concupiscentemente os olhos lânguidos, mordicando com descaro os beiços lívidos.

Fugíamos acossados pelos maltrapidos e, em breve, emergíamos no esplendor da cidade.

Ficava-me na alma, de tais visões, um sabor amargo. E só verdadeiramente, compreendi o sobrenatural.