medo, posto que eu o sentisse rondando-me, não se chegou a mim. Eu estava como um ralé que houvesse desapertado a grilheta e repousado os grilhões — sentia os ferros, mas não lhes sofria o peso nem a compressão vincante e dolorosa. Súbito, porém, o silêncio recaiu mais abafado e logo recomeçaram as visões, as alucinações. A dúvida terrível reentrou-me ao espírito torturando-o. Era possível que um homem que ia tão longe se manifestasse, em corpo real, aos meus sentidos, no ambiente da vida? Era possível?

Levantei-me de golpe e desatinada, atabalhoadamente rebusquei na mesa, com mão nervosa, o livro misterioso, os originais da novela e só achei páginas escrevinhadas, notas rápidas, cartas, bilhetes.

Entretanto, ainda naquela manhã eu consultara o livro e durante todo o dia, como se adivinhasse o imprevisto desfecho, trabalhara sem pausa na tradução.

Detive-me cansado, desalentado. O meu pensamento baralhava-se, ideias confundiam-se, coisas do passado, da infância afluiam-me