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Nestes mares o horisonte
É mais puro e matisado,
Que não sei como eu o conte
A quem não fôr desgraçado!
Não tem grimpas d’altas torres
Que vão-lhe o brilho roubar,
Tem vagas de um mar humilde
Que de perto o vae saudar!

Quem nunca deixou a terra
Para andar sobre estes mares,
Quem do coração faz guerra
Á solidão nos azares,
Não póde achar encantos
Nestes céus, e neste mar,
Não tem vida dentro d’alma,
Não tem alma para amar?

Quem as fadigas da vida
Não nas vem despir sósinho
Sobre as lôbregas torrentes,
No seu dôce murmurinho; —
Não mitiga sobre as aguas
Do seu pranto o acre ardôr,
Não póde esquecer perfidias
Nascidas do desamor!