Não tem fructos por Deos offertados,
Qual mimoso torrão portuguez,
Não tem rios por Bardos cantados,
Qual Mondego, nos factos d’Ignez.
Não tem feitos de gloria qu’ao mundo
Orgulhosa se possa ufanar,
Não tem fado, destino jucundo,
E se o tem, quem o ha d’anhelar? —
Tem palmeiras de sombra copada
Onde o Sóba de tribu selvagem,
Em c’ravana de gente cançada,
Adormece sequioso d’aragem.
Impinado alcantil dos desertos
Lá se aninha sedento Leão
Em covis d’espinhaes entr’abertos,
Onde altivo repousa no chão.
Nesses montes percorre afanoso,
A zagaia com força vibrando,
O Africano guerreiro e famoso
A seus pés a panthéra prostrando.
Não tem Virgens com faces de neve
Por quem lanças enriste Donzel,
Tem donzellas de planta mui breve,
Mui airosas, de peito fiel.
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