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Seu amor é qual fonte de prata
Onde mira quem nella s’espelha
A doçura da pomba qu’exalta,
A altivez, que a da féra simelha.

Suas galas não são affectadas,
Coração todo amor lhe palpita,
Suas juras não são refalsadas,
No perjurio a vingança crepita.

Sabe amar! — Mas não tem a cultura
Desses labios de mago florir;
Em seu rosto se pinta a tristura,
Os seus olhos tem meigo lusir.

Minha terra não tem os cristaes
Dessas fontes do só Portugal;
Minha terra não tem salgueiraes,
Só tem ondas de branco areal.

Não tem Vates por Deos inspirados,
Que descantem um Gama, um Moniz,
Que em seus feitos com loiros ganhados
Deram lustre ao nativo paiz.

Não os tem; porqu’a sorte negou-lhe
Do Poeta a divina missao,
Do Poeta, que a patria descanta
Com vangloria, com mago condão.