Foi aqui, que ora alegre, esquecendo
Este mundo d’espinhos e dôr,
Contemplava o meu anjo da terra,
Me fallando só fallas d’amor!
Foi aqui, que ora em beijos frementes
Os seus labios tocavam nos meus,
E suas faces córando de pejo —
M’infiltravam delicias dos Ceus! —
Foi aqui!… mas p’ra que recordar
Esses dias de gôso passado,
Para que? — se fugio-me a ventura,
Se na terra hoje sou desgraçado? —
Nesta hora d’amarga lembrança,
Nest’instante d’horrivel penar,
Sinto a dôr que nem lagrimas pódem
Em meu peito faze-la cessar.
Sinto a dôr mais cruel e pungente,
No rigor da mais viva saudade —
Que perfidia de horrenda traição,
Desabrida lançou sem piedade!
Oh! mal haja essa mão impiedosa,
Qu’em meu labios o fel d’amargura
Me roçou, e me obriga a soffrer
Deste mundo a maior desventura!
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