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ESPUMAS FLUCTUANTES

Assim um velho, curvo ao pêso d′annos,
Da mocidade em vão os tempos chora;
Diz: — volvei-me essas horas profanadas,
De que eu, ó céos, não soube aproveitar-me.
Só lhe responde a morte; os céos são surdos
E inflexiveis o arrojam ao sepulcro,
Não consentindo que se abaixe, ao menos
A apanhar essas flôres desprezadas.

     Amemos, vida minha!
E riamos do afan que os homens levam
Atraz de um fumo vão, que lhes consome
Metade da existencia, esperdiçada
     Em sonhos e chimeras.

Não invejemos seu orgulho esteril;
Deixemos á ambição os seus castellos.
     Mas nós, da hora incertos.
Tratemos de esgottar da vida a taça,
     Emquanto as mãos a empunham.

     Quer os louros nos cinjam
     E nos fastos sangrentos de Bellona
Nosso nome se inscreva em bronze e marmore;
Quer da singela flôr que as bellas colhem
     Se entrance a humilde c′ròa.
Vamos todos saltar na mesma praia.