Uma noite sonhei que, em minha vida,
Deus accendia a estrella promettida,
Que leva os Reis ao berço da ventura;
Mas, quando, ao longo de j)oenta estrada,
O suor me escorria d′amargura...
Passava em meus cabellos perfumados
Aquella mào tão pura! -
Era uma mão que illuminara um sceptro!
Mão que ensinava da harmonia o metro
As esplieras de luz que o dia encobre!
Tão santo, que uma pérola indiscreta
Talvez manchasse essa nudez tão nobre...
Vasia... era a riqueza do poeta
Aquella mão tão pobre!
Era uma mão que provocava o roubo!
Era uma mão para cortar o globo!
Tinha a luz — que arrebata! e a luz — que espanca!
Fura o génio de Sócrates, o grego!
Domara em Roma os Cônsules e o lobo!
Mão que em trevas buscava Homero cego,
Aquella mão tão branca!