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ESPUMAS FLUCTUANTES


As azas molha em rapidez não vista!
Como andorinha que se arroja á tòa,
Cruzando em beijos a extensão das teclas!
Accendendo no seio a luz dos Heclas...
Aquella mão de artista!

Mão de criança! Era uma mão de arminho,
Tendo essas covas, esses alvos ninhos,
Lares que a terra desconhece ainda,
Lembrando as conchas dos parceis marinlios,
A polpa branca dos nascentes lirios...
Covas... porque se enterram mil delirios
Naquella mão tão linda!

No theatro uma noite, casta, esquiva,
— Na luva de pellica a mão captiva
Recordava um eclipse da lua...
Mas um momento após, deixando o íruante,
Vi salvar-se da espuma rutilante,
Como Vénus despida e palpitante,
Aquella mão tão nua!

Era uma régia mão! Que largas vezes
Sonhei torneios, morriões, arnezes,
Bravos ginetes de nevada crina,
Justas feridas entre mil revezes.
Da media idade a sanguinosa palma
Só p′ra os louros... prender á lança! e a almal
Aquella mão tão fina!