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ESPUMAS FLUCTUANTES

Dá-me um abrigo nos teus seios tumidos!
Falla!... que eu ouço o pipilar das aves!

Já viste ás vezes, quando o sol de Maio
Inunda o valle, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: — Que suave raio!
Respondo o ramo: — Como a luz é meiga!

E ao doce influxo do clarão do dia
O junco exhausto, que cedèra á enchente.
Levanta a fronte da lagôa fria...
Mergulha a fronte na lagôa ardente...

Se a natureza apaixonada acorda
Ao quente afago do celeste amante,
Diz: — Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh′alma reviver ovante?

É que teu riso me peneira n′alma,
Como a harmonia de uma orchestra sancta,
É que teu riso tanta dôr acalma...
Tanta descrença!... tanta angustia!... tanta!

Que eu digo ao ver tua celeste fronte:
— O céo consola toda a dôr que existe.
Deus foz a neve para — o negro monte!
Deus fez a virgem para — o bardo triste!

Rio de Janeiro, Junho de 1869.