115


As minhas roupas, quero até rompel-as!
Quero, arrancado das prisões carnaes,
Viver na luz dos astros immortaes,
Abraçado com todas as estrellas!

A Noite vae crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!

E eu lucto contra a universal grandeza
Na mais terrivel desesperação...
E’ a lucta, é o prelio enorme, é a rebellião
Da creatura contra a natureza!

Para essas luctas uma vida é pouca
Inda mesmo que os musculos se esforcem;
Os pobres braços do mortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela bocca

E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos ultimos degraus,
O Hercules treme e vai tombar no cháos
De onde seu corpo nunca mais levanta!

E’ natural que esse Hercules se estorça,
E tombe para sempre nessas luctas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mechanismo que tiver mais força.

Ah! Por todos os seculos vindouros
Ha de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual á lucta dos christãos e mouros!