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Depois, é o ceu abscóndito do Nada.
É este acto extraordinario de morrer
Que ha de, na ultima hebdómada, attender
Ao pedido da céllula cansada!

Um dia restará, na terra instavel,
De minha anthropocéntrica matéria
Numa concava chicara funerea
Uma colher de cinza miseravel!

Abro na treva os olhos quasi cégos.
Que mão sinistra e desgraçada encheu
Os olhos tristes que meu Pae me deu
De alfinetes, de agulhas e de pregos?!

Pesam sobre o meu corpo oitenta arráteis!
Dentro um dynamo despota, sósinho,
Sob a morphologia de um moinho,
Move todos os meus nervos vibrateis.

Então, do meu espirito, em segredo,
Se escapa, dentre as ténebras, muito alto,
Na synthese acrobatica de um salto,
O espectro angulosissimo do Medo!

Em scismas philosophicas me perco
E vejo, como nunca outro homem viu,
Na amphigonia que me produziu
Nonilliões de moleculas de esterco.

Vida, mónada vil, cosmico zéro,
Migalha de albumina semi-fluida,
Que fez a bocca mystica do druida
E a lingua revoltada de Luthero;