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Míngua-se o combustivel da lanterna
E a consciencia do satyro se inférna,
Reconhecendo, bebedo de somno,
Na propria ancia dyonisica do gozo,
Essa necessidade de horroroso,
Que é talvez propriedade do carbono!

Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dôr como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca.
Assim tambem, observa a sciencia crúa,
Dentro da ellipse ignivoma da lua
A realidade de uma esphera opáca.

Somente a Arte, esculpindo a humana magua,
Abranda as rochas rigidas, torna agua
Todo o fogo tellurico profundo
E reduz, sem que, emtanto, a desintégre,
A’ condição de uma planicie alegre,
A aspereza orográphica do mundo!

Próvo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os methodos da abstrusa sciencia fria
E os trovões gritadores da dialéctica,
Que a mais alta expressão da dôr esthética
Consiste essencialmente na alegria.

Continúa o martyrio das creaturas:
— O homicidio nas viellas mais escuras,
— O ferido que a hostil gléba atra escarva,
— O ultimo solilóquio dos suicidas —
E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anónyma de larva!»