Não éra apenas uma velhinha, tremula engelhada,
que vagava todas as manhãs, desamparadamente:
— era a Dor, a Dor cruel e ignota, que
ninguém sentia, ninguém via, mas que vinha
sempre sombriamente viver junto á estranha vida
que no mar palpitava.
E, quem olhasse bem para ella, com aííecto piedoso, com todo o concentrado sentimento, e demorasse n′um exame lento, silencioso, detalhado, de todas as suas feições, de todas as suas feições, de todas as suas rugas, veria então como a Lúcia se transfigurava sempre que ouvia a matinal côrreria no jardins do Racolhimentos, sempre que encarava por muito tempo o mar, fitando-o como horrível inimigo que se não pôde jamais destruir, mas apenas odiar em vão.
Um amargor, um fel, uma anciedade, anciedade de tudo, anciedade mortal a crucificava, e ella então começava a percôrrer novamente ao longo das praias, mas tão febril, tão inquieta, tão vertiginada a nobre e doce cabeça branca, que se temeria que ella fosse enlouquecer ou morrer alli de desespero.
Fazia mesmo lembrar um louco, igualmente cego e mudo, encarcerado e tacteando na sua desgraça, debatendo-se para espedaçar as perpetuas grades do cárcere tenebroso da loucura, da