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sonho de Infinito que lhe povoa a alma, sem mesmo elle se aperceber disso, e que ás vezes, por acaso, escapa, trahindo-se pelo brilho mysterioso dos olhos e por vagos, perdidos suspiros desolados que elle desprende á toa, sem mesmo saber porque, na inconsciência dos phenomenos ingénitos do seu ser; tudo isso está por algum tempo desvanecido, apagado, sumido já n′essa amesquinhada posição de homem deitado, a quem, só falta, cerradas como estão as pálpebras, cruzar sobre o ventre as mãos e unir os pés para semelhar um morto.

Entretanto, no silencio e na sombra desse somno como que se está gerando secretamente, subtilmente e profundamente, átomo a átomo, um mundo de phenomenos, uma tragédia muda de phenomenos.

Entretanto, assim parecendo despreoccupado dos segredos e signos da Vida, renunciando a tudo, agora, nesse aspecto de apparente tranquillidade simples do somno, elle está alli curiosamente, em fundas brumas, vivendo uma alta e intima vida psychica muito mais intensa, muito mais complexa e preoccupada do que a outra.

Porque ninguém sabe que, a seu pezar, elle, por mil subtis combinações transcendentes e engenhosas do querer latente do seu organismo